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É possível produzir bebês geneticamente modificados?

01/05/2017 23:23

Por Camila Ranzatto Dogo

    Num futuro não muito distante, não existirá mais o racismo, mas sim o "geneísmo", um tipo de preconceito baseado em testes de laboratório, quando as pessoas são pré-julgadas por suas qualidades genéticas:  produzir bebês  com os genes perfeitos, in vitro, são o novo padrão de reprodução, enquanto o método convencional é tido como antiquado,  gerando bebês "inválidos" (geneticamente imperfeitos). Esse é o mundo retratado no filme GATTACA, de 1997, estrelado por Uma Thurman, Jude Law e Ethan Hauke.
    Mas, será possível produzir bebês geneticamente perfeitos? No mesmo ano, 1997, nos Estados Unidos, foram gerados bebês com modificações no DNA mitocondrial, para evitar que herdassem uma doença específica. Hoje, já adolescentes, estão sendo acompanhados por pesquisadores, para analisar possíveis implicações de tal modificação, neles e em seus futuros descendentes. Nesse caso, a alteração não aconteceu no material genético nuclear e não envolveu a edição de genes, mas a inserção da mitocôndria de uma terceira pessoa ao óvulo da mãe que, posteriormente, foi fecundado com o espermatozoide do pai.
    Outra possibilidade que já existe, inclusive no Brasil, é a escolha de traços hereditários: são feitos diversos embriões em laboratório usando o óvulo e o espermatozoide dos futuros pais. Após chegar a cerca de 8 células, uma delas é retirada do embrião para fazer um escaneamento genético a procura de determinadas doenças ou características indesejadas. Os embriões que as contêm são oferecidos para pesquisa e os que contêm traços desejados são implantados no útero da mãe. Esse tipo de análise e implantação só pode der feito com fins de evitar o desenvolvimento de doenças letais, mas já abre margens para preocupações em relação à prática de alterações fúteis, como mudar tipo de cabelo ou cor dos olhos.
    Recentemente, em 2015, pesquisadores chineses fizeram experimentos, agora sim, para modificar os genes de cerca de 80 embriões humanos, porém, não tiveram sucesso. Apesar de não funcionar, o estudo dos chineses traz implicações éticas importantes, pois além de permitir alterações desnecessárias, pode causar mutações sérias, por não ter se mostrado eficiente; na prática, corre-se o risco de modificar o DNA sem necessidade, como no caso da doença de Huntington: quando um dos pais é portador da doença, seus descendentes tem 50% de chances de nascer com o gene e, nesse caso, desenvolvê-la. Ocorre que, para editar o gene, é preciso manipular o embrião ainda muito jovem, quando nem ao menos sabe-se se o bebê será portador e, assim, a desenvolverá.
    E, por fim, no ano passado, o Reino Unido aprovou realização de testes para edição de embriões, usando a mesma técnica dos chineses, a CRISPR: com ela é possível recortar genes indesejados e inserir outros, numa espécie de recorte e cole enzimatico. Os embriões usados são doados por casais que já fizeram fertilização in vitro e, tais embriões não poderão ser implantados, devendo ser descartados após os estudos. O que os pesquisadores querem é compreender os mecanismos genéticos do desenvolvimento embrionário e do aborto espontâneo, porém, ser funcionar, levanta-se novamente a questão de possíveis alterações fúteis: o que será do amarelo se todos gostarem do azul?

Fontes:

Folha de São Paulo: Possibilidade de bebê geneticamente modificado preocupa cientistas

Jornal O Estadão: Reino Unido autoriza modificação genética de embriões humanos

Revista Superinteressante: Como fazer super bebês

TechCrunch News: The World’s First Genetically Modified Babies Will Graduate High School This Year

 

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